Dia Mundial da Dança
Vida é dança Este é o bailado da vida Rute Maluma, 40 anos, é natural de Lisboa e desde menina que sonhava ser bailarina. Começou na ginástica rítmica, foi até à dança contemporânea e hoje ensina dança oriental e cigana. Subamos ao palco porque o assunto hoje é a dança. A bailarina de danças étnicas, como a oriental, a russa, a cigana da Roménia, a cigana do Rajastão, na Índia, e a dança contemporânea, começa por contar-me que a sua aventura de palco começou desde que se lembra. “Quando era miúda sentia que a dança era a única coisa que me relaxava. Basicamente sinto que já trouxe a dança comigo e que comecei a dançar desde que me lembro de ter força nas pernas. Lembro-me que quando passava algum tempo em casa dos meus avós começava a rodopiar com um xaile sem parar”. Pergunto-lhe o que pensa uma bailarina enquanto dança. “Enquanto danço há várias coisas que acontecem. A minha professora Myriam Szabo durante as aulas pedia-nos sempre para executarmos um exercício que consistia em improvisar e memorizar e para nos deixarmos levar pela música. Dizia-nos que improvisar seria relativamente fácil e “enquanto estão absolutamente entregues memorizem”. Considero que seja um pouco um misto de estar absolutamente atenta à música e ao que me rodeia, mas de uma forma abstrata. No fundo é concentrarmo-nos e estarmos vivos no presente”. Quando dizemos que a dança é uma linguagem corporal podemos afirmar também que o corpo funciona como um veículo. “No meu caso o corpo é muito importante e vital. A dança é corpo. Existe a sensação de um preenchimento de algo. Pode ser duas coisas. Pode ser uma fala ou uma conversa e até convém que sejam as duas para não sermos autistas e estarmos sempre acordados no momento. No meu caso sendo uma bailarina de danças do mundo os olhos e as mãos falam sempre enquanto danço”. Rute Maluma, sabe que enquanto bailarina de danças do mundo tem de dar algo para quem a vê em palco, sonhar e estar ligada ao seu próprio sagrado, consciência e beleza. Faço uma viagem com a bailarina pelos bastidores. Para se manter em forma conta-me que enquanto professora as aulas que dá fazem parte de um trabalho regular de corpo e de flexibilidade, porque enquanto dança está a treinar o corpo. Mas a questão de um ensaio é muito diferente, porque quando ensina o que sai é sempre matéria muito inferior ao seu nível físico. E quando ensaia procura mais os seus limites e originalidade. Quanto à criação de uma coreografia, diz-me que “existem várias formas de criar coreografias dependendo do nosso estado de espírito. A questão de estar inspirada é sempre melhor. Ideias puras sem limite e verdades carregadas de força”. Ainda há tempo para me contar que o espelho pode ser mesmo um grande inimigo de uma bailarina. “Ensino às minhas alunas que quando aprendem a dançar através de um espelho observam todo o movimento que põem no corpo mas quando não o têm não sentem o movimento. O espelho é o mestre em vez de ser o sentir o mestre. É o não saberem comandar e projetar o corpo, mas em vez disso serem comandadas por uma imagem. Rute Maluma acredita que tudo na vida é uma dança de que a Natureza e o pensamento, e até as crenças, fazem parte. Há países onde a dança acontece nas cerimónias fúnebres. E dá-me um exemplo musical que se adequa muito bem à dança. “Há um estereótipo que vemos em filmes em que as pessoas no mundo ocidental quando se sentem mais em baixo e precisam de desabafar vão beber um copo a um bar para dois dedos de conversa com o barman, mas um cigano se estiver triste agarra numa viola e faz da sua tristeza uma música. Ser bailarina é uma filosofia de vida. Acaba a entrevista a confessar-me que dançará até morrer e que a última dança será a vida porque a “dança é vida e eu vivo a dança”. NOTAS: O Dia Mundial da Dança é celebrado a 29 de abril por ser a data de nascimento do mestre bailarino e professor francês Jean-Georges Noverre. Foi instituído pelo CID – Comité Internacional da Dança da UNESCO, em 1982.