Shaper Joselito
O shaper que quer levar o coração de volta à casa onde um dia o deixou Joselito Rosário, 33 anos, natural da Ilha de São Vicente, em Cabo Verde, reside há 8 anos em Portugal e abraça desde a sua chegada a profissão de shaper (construtor de pranchas de surf). O que o fez mudar de país foi o casamento com uma cabo-verdiana com nacionalidade portuguesa. Residem desde então no Monte da Caparica, na margem sul do Tejo. Antes de vir para Portugal e de se tornar um shaper, Joselito era mecânico, bate-chapas e pintor de automóveis em Cabo Verde. Fazia um pouco de tudo na oficina. “Comecei no mundo do surf a trabalhar na fábrica de pranchas do Lufi e desde logo senti interesse pela profissão. Trabalhava na sala dos copings onde montava as quilhas e caixas nas boards.” O passo seguinte foi a amizade criada com um laminador. “Fiz amizade com um laminador da The Factory Surf Blanks & Glassing Servisses e sempre que estava com ele sentava-me na sala de laminação a vê-lo trabalhar. Um dia esse amigo ao reparar na minha curiosidade perguntou-me se o queria ajudar e foi aí que se deu a magia. Foi aí que tudo começou.” Hoje, o shaper Joselito, tem a marca JR Surfboards e faz uma prancha do princípio ao fim. A prancha de surf começa no construtor, que ao agarrar num bloco em bruto começa a dar-lhe o formato do shape que deseja. Depois vem a secção de laminação ou pintura, no caso de se pretender uma pintura artística. Após estes dois processos vai à secção de lixa e depois ao envernizamento. É como se de um jogo se tratasse. “O que mais gosto de fazer é trabalhar para um cliente em especial e poder criar uma obra com tudo o que aprendi.” O sonho de Joselito é continuar a aprender e regressar a Cabo verde. “No futuro quero regressar a Cabo Verde e montar uma fábrica de surf. Neste momento já tenho um projeto que consiste em juntar pranchas usadas e enviar para lá, de forma a implementar esse tipo de desporto. No entanto o envio de material é extremamente caro. Além disso é muito difícil conseguir-se uma prancha em Cabo verde e o pouco que se arranja não está ao alcance da maioria das pessoas. Eu, no fundo, quero cultivar para depois colher”. Enquanto isso, por cá, fala-me dos seus 3 filhos, o Gabriel, a Joyce e a Bia, de sorriso estampado no rosto. Claro está que nem tudo é “um mar de rosas”. Ao vir para Portugal deixou na ilha a sua mãe e os seus 8 irmãos. “O pior é a saudade, que se tenta ultrapassar com chamadas telefónicas e videochamadas. Tento conversar com todos para saber o que se passa na terra. Estive lá apenas uma vez desde que estou cá porque as viagens são muito caras”. Hoje trabalha na fábrica The Factory, na Charneca de Caparica, onde guarda na sala de shape a primeira quilha feita por si.