Kuduristas da Caparica
A Idade e um passo de dança Miguel Graça, Joana Silva, Rafaela Silva, Gonçalo Silvestre e Diana Ramos moram na margem sul do Tejo e dão esperança e amor a idosos através da dança. Os “kuduristas da Caparica" são um grupo de voluntários que dançam kuduro e afro house à janela dos "avós", num projeto em parceria com o Centro Social da Trafaria (SCMA) e a Santa Casa da Misericórdia de Almada. Muito antes do começo da pandemia, Joana Silva e Gonçalo Silvestre tinham uma empresa de impacto social, a “Varina”, que entre outras atividades dava aulas de culinária em que participavam muitos dos “vovôs” que ainda hoje visitam. “A empresa foi o caminho para começarmos a fazer voluntariado no Centro Social da Trafaria. Quando surgiu a pandemia as instituições fecharam por ordem da Direção-Geral de Saúde (DGS), o que nos levou a colaborar num projeto já existente, o “não estamos sós”, porque sentimos que tínhamos um compromisso e não podíamos de forma alguma afastarmo-nos destas pessoas”. Quando o centro social reabriu, os idosos regressaram e o projeto “não estamos sós” chegou ao fim. Depois com a chegada do segundo confinamento o centro voltou a fechar e foi nessa altura que tiveram a ideia de começar a visitar e a dançar para os "avós", à janela. “Como queríamos continuar a saber dos “nossos vovós” surgiu a ideia de começarmos a dançar na rua à porta da casa de cada um deles” dando assim início aos “Kuduristas da Caparica". As visitas às oito “janelas fixas” são feitas sempre três vezes por semana. Hoje já perderam a conta para quantos idosos dançam. “Quando visitamos um utente do centro há sempre mais alguém que vem à janela. E quantos mais visitamos mais gente aparece. Há ruas em que quase todos os moradores aparecem às janelas para participar. A confiança em nós estabelece-se através dos “vovós” do centro”. Diana Ramos, conta-me que perdeu recentemente os seus avós, e diz-me que “não é fácil gerir emoções principalmente quando dançamos para pessoas idosas. Penso muitas vezes nos meus avós quando estou a dançar. Há muita solidão e existem duas realidades; a dos idosos do Centro Social da Trafaria que agora estão em casa, e a dos que vivem sozinhos, mas que não frequentam nenhuma instituição social”. Rafaela Silva, diz-me que “quando chegamos à casa de alguns idosos estes queixam-se de dores. Há dias que encontramos alguns mais desmotivados e em baixo. Mas quando ligamos a coluna de som e começamos a dançar renasce o sorriso e ficam com um brilho nos olhos. A nossa visita faz toda a diferença para estas pessoas”. Miguel Graça, é professor de kuduro há sete anos e foi um dos criadores do projeto, mas para além disso também interage em bairros sociais. “Dou aulas de dança a título particular a crianças e jovens em bairros sociais porque não são apenas os idosos que necessitam de apoio. Aproveito a visão e experiência de vida que possuo no dia a dia para contribuir, seja através da dança seja através de outros ensinamentos. No fundo tento passar-lhes valores e direcioná-los para outros caminhos. É o que mais gosto de fazer”, acrescenta. Todos gostavam que este fosse um projeto interativo com continuidade e que outros grupos pudessem dançar à janela de mais “vovós” em outras freguesias de Portugal. Neste projeto existe uma questão de património e de memória que começa na dança e acaba sempre numa longa conversa. Este grupo de jovens dança como se estivesse a atuar para os seus avós, só que estes avós são kuduristas, os tais que fazem voar laranjas pela janela e os enchem de rebuçados.